Quis o Criador abençoar o talento de Ailton André Nunes e ele acabou traçando seus passos no compasso do surdo de primeira. Ou melhor, da "Bateria Surdo Um". Foi a paixão pelo ritmo, surgida quando ainda era criança e rolava pelo lixão do Chalé, morro da Mangueira, em busca de latas e papelão para fazer tambores afinados com o calor de fogueiras , que fez o hoje presbítero da Igreja Renascer em Cristo aceitar o convite do presidente Ivo Meirelles e se tornar, há pouco mais de um mês, o novo mestre de bateria da Verde e Rosa.
Contradição com a fé? Não para Ailton, percussionista profissional, 39 anos, casado, pai de duas filhas e avô de outra menina. "Sou um servo de Deus e acredito que as pessoas têm um dom. E acredito no plano de Deus para a minha vida. E faz parte passar por isso, estar à frente da bateria", explica o maestro, que também é um dos autores do samba que homenageia Nelson Cavaquinho, enredo da escola.
Anes de aceitar conduzir a bateria que ele conhece desde menino e da qual já chegou a ser um dos diretores - na época o primo Alcir Explosão, a quem elogia o talento - além de primeiro repique, Ailton conversou com a família e seus orientadores na igreja.
A volta à escola, entretanto, levou 8 anos para acontecer. Foi quando, diz, "tinha outro tipo de conduta e estava perdendo a família", acabou encontrando a igreja em seu caminho. Na caminhada de lá pra cá, trabalhou com música, rodou a Europa como percussionista e reencontrou amigos no Brasil. Agora, só quer saber de unir a "Família Surdo Um" em torno de um objetivo: ganhar a nota dez para a Mangueira.
Mas e as tentações do Carnaval?. "Todos nós somos pecadores. Só que tem um porém: eu tenho consciência que sou pecador, mas hoje não vivo pelo pecado", responde, sem atravessar o discurso.
Texto de Fabiana Sobral publicado originalmente no jornal O Dia (Rio de Janeiro)
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